Sobre o Instituto
Fundado em 2025, o Instituto Ivan da Silva Moraes nasce do compromisso com a memória, a arte e a dignidade de um dos mais singulares artistas da história brasileira. Com sede no coração da cidade de São Paulo, o Instituto consagra-se à valorização da estética afro-brasileira, ao legado do modernismo popular e à defesa da cultura como força de identidade, resistência e expressão.
Nascido em 1936, o carioca Ivan da Silva Moraes já concluíra o curso de Serviço Social quando decidiu se dedicar plenamente à pintura paixão que o acompanhava desde a infância. Em 1953, ingressou no Instituto Municipal de Belas Artes do Rio de Janeiro, na aula de pintura do veterano Cadmo Fausto. Teria seguido o caminho acadêmico, não fosse sua decisão de estudar no Museu de Arte Moderna com Ivan Serpa, que lhe reconheceu o talento, apresentou-lhe os segredos do ofício e respeitou profundamente o seu universo idealista.
Em 1960, participou do Salão Nacional de Arte Moderna e, no mesmo ano, realizou sua primeira individual no próprio Museu de Arte Moderna do Rio. No ano seguinte, expôs na Bienal de Paris. Em 1963, levou sua obra à Bienal de São Paulo, e em 1966 integrou a mostra “Arte Brasileira”, apresentada em Nova York. Também teve individuais marcantes na Galeria do Copacabana Palace entre 1967 e 1970, na Galeria Ipanema em 1971 e 1972, e na Galeria Marte-21 em 1975. Seu trabalho figura ainda na obra Aspectos da Pintura Primitiva Brasileira, de Flávio de Aquino.
A primeira exposição individual de Ivan, em 1960, revelou um jovem pintor cuja temática baianas de saias rendadas, cenas de candomblé e celebrações da cultura afro-brasileira contrastava fortemente com as vanguardas do momento, divididas entre realismos sociais, lirismos abstratos, geometrias concretas e informalismos.
À época, a crítica o classificou apressadamente como um artista ingênuo, mas logo se percebeu que seu "pitoresco" estava subordinado ao pictórico: em suas telas singelas, havia domínio técnico, sofisticação na composição e um estilo absolutamente pessoal.
Inspirado nesse gesto radical o de transformar o cotidiano em rito e a pintura em enigma o Instituto abriga, pesquisa e difunde um acervo que pulsa com imagens de fé, cor e transcendência. São obras, documentos, fotografias, cartas e registros audiovisuais que, além de preservar o percurso criativo de Ivan, dialogam com as camadas profundas de uma herança visual pouco reconhecida, mas essencial ao imaginário brasileiro.
A missão do Instituto é de garantir que a obra de Ivan Moraes, descrita por José Roberto Teixeira Leite como “a de um Matisse tropical” permaneça viva, acessível e potente.
Teixeira Leite destacou que “em suas telas aparentemente singelas, via-se a mão de um artista com domínio técnico e estilo pessoal”. Quirino Campofiorito, por sua vez, viu na pintura de Ivan “o calor comovente de uma mensagem”, um universo de símbolos e humanidade que fascina sem anunciar por quê. Já Ana Sant’Anna revelou que suas imagens contêm “uma arte de sentimentos e sensações”, onde “a cor ora profunda e misteriosa, ora clara e iluminada, expande-se em formas inventivas de grande riqueza”.
Essas leituras são bússolas críticas que nos orientam e aprofundam o sentido maior de nosso trabalho de zelar não apenas pela integridade material do legado de Ivan Moraes, mas também por sua dimensão simbólica, estética e espiritual.
Para o Instituto, a memória é um ato de criação. É por meio dela que as histórias invisibilizadas ganham corpo, cor e voz. Preservar essa memória é também participar da reconstrução de uma história coletiva, marcada pela diversidade e pelo desejo de reparação. Cuidar das imagens de Ivan Moraes é afirmar a centralidade da cultura afro-brasileira na formação do Brasil profundo e é reivindicar, com beleza e rigor, o direito à permanência.
O Instituto se constrói como um lugar de escuta e de invenção. Mais que um espaço expositivo, é um território vivo de pensamento e transformação, onde cada traço, cada cor de Ivan Moraes nos convoca a ver o Brasil por dentro por trás das rendas, das baianas, dos cânticos, das devoções.
Como afirmou Xenia Bergman, sua obra “magnifica a natureza nobre das Baianas”, conduzindo-nos a um Brasil ritmado por danças, por fé, por imagens que não pedem licença, mas ocupam o centro da tela com solenidade.
Convidamos o público a redescobrir o país que ainda pulsa nas bordas da tela. Um Brasil profundo, lírico e resistente, que Ivan Moraes nos ensinou a ver e que o Instituto se dedica a manter vivo, em estado de arte.